quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A fórmula da longevidade

Meus queridos,
aqui quem vos fala não é alguém ao final de sua vida, fazendo reflexões do tempo que viveu, do que fez e do que não fez, das pessoas que conheceu ou dos fatos importantes que viveu. Aqui, quem vos fala, é alguém jovem, que ainda tem muito a viver - e está apenas no começo -, mas tem se deparado com uma situação muito forte nesses últimos meses e que gostaria de compartilhá-la. Mais do que uma utilidade pública, mas aqui, minhas palavras estarão repletas de sentimento e amor.

Minha história no triathlon começou mesmo em 2008, mas em 2007 alguns fatos importantes ocorreram. Recém-chegado em Florianópolis, calouro do curso Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Santa Catarina, me deparei com a corrida. Queria entrar em forma, morava com os meus avós, mas, não cheguei a fazer tantos amigos aqui naquela época e também logo de cara não estava gostando da faculdade como imaginei que gostaria. Gastava meu tempo correndo. Sem saber o que era pace, pisada pronada, monitor cardíaco ou ainda que existiam provas de corrida que não eram pra profissionais! Numa dessas corridas, conheci um certo cara, que mais na frente será citado. Naquela época, eu nunca imaginaria, nem pretenderia, tornar-me profissional. Minha estada de 2007 em Florianópolis durou seis meses. Abandonei a faculdade, completaria 19 anos em 2008 e retornei pra casa dos meus pais, em São Luis. Meio sem saber o que fazer, mas também sabendo que sem fazer nada eu não poderia ficar, acabei caindo na Educação Física. Completamente de pára-quedas. Na faculdade de Educação Física, conheci também um outro cara, chamado Ubirajara. Quem conhece, tem noção da loucura que ele transmite ao falar. Eu não sabia, mas o Bira era o cara do triathlon em São Luis. Tinha quase 20 anos de prática, um grande entusiasta, conhecido por todos, figura folclórica, e que mais tarde tornaria-se um grande amigo meu.

Antes de sair de Florianópolis, como disse anteriormente, conheci um cidadão, numa das corridas por Florianópolis. O nome dele era Roberto. Lemos.
Eu passava correndo pela Beira-mar e via um moço instruindo várias pessoas de camisa igual. Não fazia a menor noção do que era aquilo, mas certo dia parei pra perguntar e descobri que existia uma coisa no mundo chamada Assessoria Esportiva. Depois que ele me explicou o que fazia, comecei então a correr, agora estruturadamente. No começo, o Roberto não passava de um instrutor e um treinador. Mas ele, com seu jeito próprio acolhedor e sereno, foi começando a descobrir mais sobre a minha vida e a conversar mais comigo. Mas, a conversa mais importante, ele só teve comigo pela primeira vez uns dois anos depois.Lembro de várias conversas que a gente tinha no começo - quando ele me explicou o que era o triathlon (que eu já tinha uma certa noção), falou do duelo de dois caras chamados Oscar Galindez e Reinaldo Colucci, que tinham chegado em primeiro e segundo lugar  no Ironman daquele ano (lembrava dessa palavra, mas não sei de onde). Descobri também que tinha um monte de gente que fazia triathlon, e corrida também. Monitores cardíacos (naquela época os GPS ainda não tinham adentrado como hoje) - quem tinha o acessório pro tênis era rei naquela época, que marcava a velocidade ou pace; tênis; provas; viagens. Entretanto, só fui me dar por conta muito tardiamente de quem era realmente esta pessoa que me instruía. Eu não sabia nada sobre a vida dele, e depois que descobri, veio aquele espanto. Não sabia que ele havia sido profissional; não sabia que ele já tinha sido campeão mundial de Ironman; não sabia que ele era uma lenda viva no Rio Grande do Sul; não sabia que ele tinha sido 6o. colocado geral no Ironman Brasil 2003; mas, acima de tudo, não sabia que era, justamente por conta deste honroso senhor (ele vai me matar), que continuo fazendo triathlon até hoje! Ir para o 5o. ano pode parecer pouco para chegar e dizer que é tão difícil assim continuar fazendo triathlon - mas, para alguém que tinha acabado de abandonar um curso de engenharia numa universidade federal, não sabia para onde ir nem o que ia fazer, naturalmente a tendência é concentrar as energias numa coisa só. E foi, conseguindo fazer disto tudo uma coisa só - esporte + profissão + paixão -, que eu estou aqui até hoje, e que vou morrer fazendo isso.

Eu retornei pra Florianópolis no final de 2009. Transferi a faculdade pra cá, minha família mora aqui, cresci entre São Luis e Floripa e amo essa cidade a ponto de dizer que não troco ela por lugar nenhum do mundo pra treinar, pra viver, pro que quer que seja. A fórmula da longevidade no esporte eu descobri tanto por acerto e erro, como pelos ensinamentos dos meus pais de nunca ser acomodado, de ser alguém excelente no que se faz, de ter valorestão importantes como ética, moral, responsabilidade e compromisso, e de ser, sobretudo compenetrado e focado, acima de todos os percalços que os caminhos sempre terão; como pela mão daquele então senhor, que hoje é meu treinador, pai, guru, conselheiro, mestre, mentor ou a palavra que vocês quiserem usar. Eu, de fato, não imaginava que o meu hobbie tornaria-se hoje o que é. Não imaginava que ambicionaria correr na elite, afinal, aos 18 anos, eu só tinha nadado quando bebê na escolinha, nunca tinha subido numa bike de corrida e tinha corrido meus primeiros 10km em 52min04s, na Corrida dos Bombeiros, em 2007. E o que tudo isso significa? Significa ter muita sabedoria, paz interior e serenidade para saber planejar a sua vida, não pular etapas, e saber lidar com as coisas que acontecem ao mesmo tempo - principalmente nessa fase, onde muita coisa acontece, e muita coisa importante, relacionada à sua vida pessoal, profissional, estudantil. Não tenho tanto tempo de triathlon, mas já vi muita gente boa (e ruim também) largar o esporte. Os motivos são inquestionáveis, cada um sabe o que é definitivamente melhor pra si! Mas não devemos também ignorar o fato de que muitas coisas em nosso dia-a-dia tendem a nos tirar daqui, pelo menos da forma como fazemos. Treinar duro, viajar pra competir, ir atrás de patrocínios envolve bastante coisa. Envolve gerenciar seu tempo, seu dinheiro, sua vida pessoal, sua logística, sua vida amorosa, sua família, seu descanso e sua mente. Encontrar o equilíbrio disso eu não acredito que seja fácil, e nem acho que encontrei com o meu, mas, uma coisa que me ajudou muito foi o que o Roberto me falou, lá no começo, quando ele viu que as coisas estavam se tornando mais sérias pra mim. Ele sempre foi enfático em me mostrar que esse planejamento era essencial, quase que como a fórmula da longevidade, porque era justamente em meio a essas coisas que ele tinha visto grandes potenciais se perderem. E eu, tenho isto até hoje na minha cabeça. A cada ano que passa, eu tenho de reajustar a minha rotina, e a conjuntura sempre muda. Por exemplo, para os próximos quatro anos, eu terei que treinar muito mais do que eu já treinei até hoje, porque é agora que o cerco começa a apertar para que eu me aproxime ainda mais do alto nível. Em contrapartida, acabei de terminar a faculdade. Vou fazer o que com o diploma? Enfiar no bolso?? De maneira alguma. Mais uma vez, a solução é fazer disto tudo uma coisa só, e as coisas estão se encaixando justamente porque há 4 anos atrás eu PLANEJEI isso. Depois que eu entrei na EF e vi que realmente gostava disso, eu descobri que o caminho para viver esporte 200% do meu dia, que era o que eu queria, era este; para que eu pudesse pensar em me auto-sustentar e cobrir todo esse tempo de maturação esportiva; para que eu pudesse estar num ambiente que eu amo, quase que 24h por dia; para que eu pudesse, sobretudo, contribuir para o crescimento deste esporte!! À medida que somos cada vez mais solicitados em treinamento, viagens, nosso tempo vai encurtando, e ter um emprego que seja completamente compatível, é essencial. E se ele te fizer ser um melhor atleta? Perfeito! E se ele te fizer uma pessoa MUITO feliz? Era o necessário.

Hoje, me deu vontade de compartilhar a minha satisfação e felicidade em saber que estou vivendo hoje exatamente o que planejei anos atrás. Essa sensação é uma das melhores que eu já tive. Estou vivendo exatamente o que eu imaginei na minha cabeça!!!

Planejei voltar pra Florianópolis, por acreditar que era o melhor lugar pra morar, treinar e trabalhar; planejei poder treinar em alto nível o tempo que fosse preciso, afinal, a estrada é muito longa e eu ainda tenho que treinar muito pra poder andar com os melhores (viver a transição do amador para o profissional envolve a colocação de muita energia, e eu estou só no começo dela), mas sem passar dificuldade financeira e poder custear o que eu não conseguisse através de patrocínios; planejei ser um bom profissional e amante da Educação Física, enquanto ciência, fazendo tudo que eu pudesse para compartilhar meus pensamentos e minhas ideias que tenho sobre as coisas - me sinto muito honrado, privilegiado e satisfeito por ter sonhado e hoje ter um espaço - ser colunista de Fisiologia do Exercício do maior portal de triathlon do Brasil, o site MundoTRI, que é justamente esse espaço que tenho para pensar e escrever e chegar até às pessoas; planejei escolher uma área de atuação na EF onde eu pudesse utilizar as minhas capacidades e que pudesse atender às minhas necessidades da rotina... E como ainda tenho planos pela frente!! Mas, ao ver as coisas se organizarem, a sensação é indescritível. Eu sofri. Sofri por antecedência. Tive medo. Não sabia exatamente o que aconteceria quando a fase de só estudar passasse, e eu tivesse que botar a mão na massa. Me questionei diversas vezes se eu aguentaria fazer tudo, ou se os meus planos dariam certo...

Hoje, moro no melhor lugar do mundo, tenho a melhor mulher do mundo, os melhores pais do mundo, o melhor treinador do mundo, tenho uma estrutura de treinamento milimetricamente integrada no meu dia-a-dia onde perder treinos é praticamente impossível (a melhor do mundo rs!), tenho patrocinadores e apoiadores que estão caminhando junto comigo (os melhores do mundo! rs.), tenho um trabalho maravilhoso que me permite sonhar, fazer e planejar, e, sobretudo, uma vida que eu AMO e que quero pro resto dos meus dias. (também os melhores do mundo!).

O que tenho pra falar pra vocês é que, planejar é essencial. Se você tiver sorte de ter pessoas que te facilitem organizar as idéias - como eu tive meus pais, minha namorada, meu treinador e meus amigos, a probabilidade de você dar errado é muito pequena. A sua fórmula da longevidade está apenas ao alcance das suas mãos, desde que você ame muito o que faz e queira isso pro resto dos seus dias!

Tenho que agradecer profundamente também os meus pais, que sempre acreditaram em mim e possibilitaram todo esse começo de uma vida, sempre me mostraram como as coisas devem ser feitas, ditas e ouvidas e sempre me inspiraram a ser igual a eles: EXCELENTES!

3 comentários:

  1. Mano, eu procuro fazer o mesmo na minha vida... m,as eu estava precisando ler um texto como esse.

    Valeu!

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  2. Muito bom o texto e suas palavras.
    Que tudo de certo para você e para esse esporte sensacional!
    A dois anos praticando triathlon, estou aprendendo o como é importante não pular etapas e o seu texto esclaresse muito bem isso.

    Abraço.

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  3. Somente quando se faz algo com muito AMOR é que é possível se dedicar com tamanha integralidade....

    Parabéns pelas conquistas... e se prepare.... porque ,com esse AMOR todo.. elas estão só começando...

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