quinta-feira, 21 de março de 2013

Breakaway Training Brasil!

Breakaway Training agora no Brasil!!

www.breakaway-training.com

Uma grande honra capitanear este time juntamente com o Guto Antunes no Brasil.

Venha treinar conosco.

Coach Lucas - lucashelal@gmail.com
Coach Guto - gutoantunes10@hotmail.com



sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Metabolismo Lipídico - parte II

Galera!

O Wander Glovinksy adicionou um pouco mais de cor ao assunto levantando uma outra questão sobre metabolismo lipídico que eu acredito inclusive ser um gancho do assunto atual. Falando da postagem, ele perguntou como ficaria a suplementação de carboidratos durante a prova, como isto interferiria no metabolismo lipídico, como ficam as recomendações de ingestão e se é apenas nos treinos longos que estimulamos o metabolismo das gorduras.

Respondendo aqui no blog, tenho mais espaço pra abrir um pouco e falar de assuntos paralelos que montam o conjunto de informações!

Então, tenho certeza que um conceito já ficou muito forte e compreendido, que é o mais importante - a utilização dos nutrientes é sempre uma mistura dos três nutrientes, independente da intensidade do esforço e duração. Tenho tentado evitar ao máximo entrar na teoria bruta, mas dessa vez vou ter que abrir um parênteses e entrar, mas acredito que será uma discussão muito rica porque explica um monte de outras coisas importantíssimas  que acontecem cotidianamente!

Bioquimicamente, os processos aeróbicos de transformação começam na seleção do nutriente (carboidrato, proteína, gordura, lactato e glicerol) nos estoques - seja carboidrato em forma de glicogênio ou glicose sanguínea, gordura como triglicerídeos intra-musculares ou corporal e proteínas musculares na forma de aminoácidos, modulados, como já vimos, pela intensidade, pela biodisponibilidade e pela presença de carboidrato na corrente sanguínea, passa por duas etapas até virar ATP e ser consumido pelo músculo. Estas duas etapas consistem no já conhecido Ciclo de Krebs e Cadeia Transportadora de Elétrons. Os dois processos envolvem um número gigante de reações químicas, onde no primeiro os nutrientes são clivados em acetil-coenzima-A, que é o que vai entrar no Ciclo de Krebs e passará por uma cascata de reações enzimáticas. Como fruto destas reações, são liberados íons H+ que são carreados por transportadores NADs e FADs para a cadeia transportadora de elétrons, e que lá o produto final em ATP será gerado, sendo consumido pelo músculo. Essa reação é intra-mitocondrial (a mitocôndria é a enzima responsável pela produção de energia na célula).

Em linhas gerais, o processo bioquímico é este e os meandros pouco importam pra gente, até porque eu pouco entrei na bioquímica propriamente dita. O importante aqui é captarmos o que temos de principal e ver o que isso significa na prática.

Se comparado ao ciclo anaeróbio alático, que acontece em 2 reações, e o ciclo aeróbio lático, que acontece em 11 reações, as transformações aeróbias de energia levam muito mais tempo pra transformar nutrientes em ATP. Entender que os processos aeróbicos tem muitas reações querem nos mostrar apenas uma coisa: ele é mais lento em fornecer ATP, e portanto, não é utilizado em processos que necessitem de energia rápida, e, por isso, o corpo utiliza outros dois processos bem mais velozes e que inclusive só permitem nutrientes que são rapidamente quebrados. O ciclo aeróbico lático, que produz 2 ATPs, produz uma molécula de ácido pirúvico para cada ATP produzido. Este ácido pirúvico pode ter vários destinos, sendo que um deles é, para alimentar um NAD com H+ e dar continuidade à produção de ATP, libera este íon H+ e se reduz para ácido lático. É assim que o nosso conhecido ácido lático é formado! Na corrente sanguínea, este ácido lático converte-se em lactato, porque o ácido lático perde um íon H+. Lembram do macete de Química Inorgânica que os ácidos terminados em ICO formam ânions ATO (bICO de pATO, para os que não lembram hahaha)? Então, o ácido látICO, que formou o lactATO, precisou perder alguém para tornar-se aniôn. Esse H+ que foi perdido funciona como qualquer H+ livre em qualquer solução - aumenta a [ ] de H+ e, adivinhem, diminui o pH intra-muscular e, que, adivinhem, é o nosso famoso e real causador da fadiga central e da acidose metabólica, que inviabiliza os esforços de alta solicitação energética! É MUITO importante entender que o real causador são os íons H+ e não a molécula de lactato, como comumente falamos, porque,  lá em cima, citei muito rapidamente que o lactato entra no Ciclo de Krebs para formar ATP. É isso mesmo: o lactato vira energia e ajuda na manutenção do esforço! Aliás, essa é exatamente a explicação fisiológica e bioquímica da remoção de lactato após treinos e provas com alta produção desta molécula. É por isso que, com estímulos aeróbicos de baixa intensidade, conseguimos remover o que ficou de subproduto e tornar a musculatura mais "limpa" para o próximo esforço. Seja removendo o lactato da célula, que fica constantemente se reciclando em ácido lático e liberando cada vez mais H+, ou seja captando os H+ livres que estão nas células através dos NADs e FADs do Ciclo de Krebs, retornando o pH da célula aos estados normais. Já é consensual que a muscultura retorna ao estado normal mais rapidamente com estímulos aeróbicos em comparação ao repouso.



Sei que esta não foi a pergunta inicial do Wander, mas feita a introdução fisiológica (onde aproveitei o gancho e deixei algumas colocações), vamos ao que exatamente ele perguntou.

- O metabolismo lipídico só é estimulado em sessões longas?

Olha, Wander, no sentido literal, não. Não é porque, como já sabemos, o fator preponderante para a seleção do nutriente é a intensidade do esforço. Na realidade, você está utilizando seu metabolismo lipídico com bastante ênfase exatamente agora, sentado lendo aqui no blog. :) A grande questão é que precisamos diferenciar estimular o metabolismo por si só ou resolver uma deficiência que existe na situação de prova. Uma deficiência em que está envolvido o metabolismo lipídico.

Na realidade, o que acontece na situação de prova do atleta destreinado é que os processos metabólicos demoram muito pra entrar em estado estável, e, ainda, quando entram, trabalham subestimados. O que devemos fazer nos treinos não é só estimular o metabolismo, porque isso pode ser feito em treinos mais curtos e tem até sua finalidade para outros tipos de atleta. Devemos levá-lo a um ponto de estresse, para causarmos alguma adaptação fisiológica que antes não acontecia ali. Como é um metabolismo que é estressado com volume e não com intensidade, utilizamos sessões longas. Mas podemos também utilizar volumes acumulados semanais, duas sessões diárias. O importante é obrigar o organismo a trabalhar num nível de adaptação desconfortável, fora do que ele está acostumado. Levar a uma situação de stress propriamente dita. O fundamento, na realidade, é cada vez mais aumentar o ponto de fadiga do metabolismo, onde as reações começam a acontecer em descompasso. É isso que a situação de prova pede, sobre o metabolismo lipídico. Digo sobre o metabolismo lipídico porque a prova, num todo, não é dependente só de metabolismo - existem muitos outros fatores envolvidos como adaptação muscular, fadiga central, força, biomecânica, controle neural e nutrição. Um exemplo fácil de visualizar quando esta condição super-treinada fará diferença é com 8 horas de prova e a frequência cardíaca segue estável e controlada e a velocidade se desenvolve, enquanto, outro atleta, aparentemente, apaga. Óbvio que muitos apagões acontecem por má nutrição, por ritmo errado no ciclismo ou primeira parte da corrida, mas você certamente já viu aquele apagão, ou redução brusca de velocidade sem motivo aparente!

- Como os carboidratos inteferem no metabolismo lipídico -

Carboidratos são, e sempre serão, a fonte primária de energia do corpo humano. Sempre que ele estiver mais biodisponível do que qualquer outro nutriente, ele será utilizado. E o melhor de tudo, ele é sempre mais eficiente do que as gorduras em gerar trabalho. Isto explica porque temos de suplementar carboidratos nos eventos de longa duração. Apesar do esforço na prova ser enfaticamente mais dependente do metabolismo lipídico, devemos entendê-lo como um metabolismo de resguarda. É o processo base de geração de energia naquele momento, que tem estoques praticamente ilimitados se comparados aos estoques de carboidratos (e por isso é importante ficar eficiente nele), mas, sempre que quisermos ir mais rápido, precisaremos dos carboidratos para tal. Então, Wander, os carboidratos interferem sim na utilização das gorduras, mas isto não pode ser visualizado como uma coisa ruim.

- A suplementação de carboidratos:

Sobre o entendimento da suplementação de carboidratos, eu acho que os pontos mais importantes que devem ser compreendidos são: os motivos pelos quais ela deve acontecer e como ela pode ser feita.
Meu técnico tem uma das poucas frases feitas que eu gosto, que em português claro é mais ou menos assim: "Pra ter sucesso em provas de Ironman, o atleta precisa gostar de treinar muito e ter estômago de avestruz".

Ter estômago de avestruz significa exatamente desenvolver ou já possuir uma alta capacidade de tolerância calórica durante a prova. A grande questão é que, sempre que o carboidrato entra, permite que o corpo trabalhe numa intensidade de esforço bem maior do que somente pela via lipídica - inclusive mesmo que ela esteja bem treinada. Lógico que, existe um ponto de saturação que é o terror de muitas pessoas - é justamente quando o intestino não consegue mais absorver os carboidratos ingeridos (ou a forma de apresentação administrada) que começa o colapso gastro-intestinal, os vômitos, as diarréias e o mal-estar. Fora isto, existe também um ponto onde a quantidade extra de carboidrato ingerida não é mais revertida em trabalho, por mais treinado que esteja o seu estômago. Só que isto é extremamente pessoal e deve ser testado, tendo como referência alguns valores colocados pela literatura que dão bastante certo. Durante grande parte da prova, o carboidrato que vem de fora é consumido na glicose sanguínea. Um pouco do carboidrato é re-estocado no músculo como glicogênio muscular durante o ciclismo, mas chega a ser desprezível. O que realmente acontece é que o carboidrato circulante ou é consumido pelo músculo para gerar energia ou é consumido pelos orgãos e pelo sistema nervoso central para manutenção das funções vitais. Dessa forma, suplementar carboidrato é imprescindível, se não o estado hipo-glicêmico é inevitável, já que o carboidrato sanguíneo está sendo todo consumido para gerar energia.

Sobre as formas de apresentação, tenho uma visão muito particular, principalmente como atleta. Acredito que quem busca rendimento tem à sua disposição todo um mercado impulsionado pelos avanços tecnológicos e demanda cada vez mais alta por rendimento, com géis, carboidratos em pó, blends (carboidratos + proteínas), balas, pastilhas que são feitos exatamente para isto. O que todos eles tem em comum é a alta densidade calórica, e este é o grande pulo do gato pra mim em comparação a utilização de alimentos comuns. Em um bom sachê de gel, você tem aproximadamente 100kcal em 30g de matéria, ou melhor, 25g de CHO em 30g de matéria, pastosa e que rapidamente chega à corrente sanguínea, isenta de fibras e outras coisas que não serão importantes agora. Para conseguir as mesmas 100kcal em uma batata, você, além de precisar de uns 200g de batata, vai passar um bom aperto pra comê-la e também armazená-la. Acredito que a comparação só é pertinente em relação à alimentos comuns, porque, tanto géis, quanto pós e as outras formas sintéticas são igualmente eficientes, desde que usadas na mesma proporção. Isto fica à critério do atleta!

Quanto às quantidades, o que principalmente vai modular é o seu peso e a intensidade de esforço. Em geral, as recomendações giram em torno de 1g de CHO por kg a cada hora para esforços altos. Pra mim, que sou um atleta pequeno e leve (57kg), 60g de CHO por hora seria suficiente. Como eu nunca fiz uma prova de IM, não posso compartilhar o que já fiz na prática. Em provas de 70.3, em torno de 200kcal-300kcal por hora pra mim sempre resolveu. Mas, sei que em IM normalmente essa é uma condição base que vai muito pela sensibilidade. Sei de histórias épicas do meu ex-companheiro de equipe Luis Antonio (9h05 em IM) que levava 1.600kcal para a bike (para cerca de 4h50 de pedal), quase 400 kcal por hora. Tenho visto bastante essa estratégia no ciclismo em deixar um estoque calórico, pois a aceitabilidade durante o ciclismo é muito maior do que na corrida. O Roberto também conta uma história do Galindez quando vinha quebrando numa maratona e mandou uns 6 copos de coca numa vez e 3 géis, se recuperou e ganhou a prova. Acredito que o ponto chave é trabalhar na capacidade máxima de tolerância do estômago, que tem de ser verificada nos treinos (pelo menos um ou dois treinos em ritmo de prova), e acho que um bom ponto de partida é 1g CHO/kg/h.

Pra quem não leu a primeira parte sobre metabolismo lipídico, este é o link: http://www.luquinhastriatleta.blogspot.com.br/2012/10/metabolismo-lipidico-varias-questoes.html

Muito obrigado pelas sugestões, galera! Estes assuntos são fantásticos!

Grande abraço a todos!

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Metabolismo lipídico - várias questões!

Galera, decidi de vez tomar uma iniciativa que há muito tempo queria fazer. Apesar de eu ter uma coluna no MundoTRI onde eu tenho total liberdade para escrever, o motivo pelo qual decidi escrever um pouco mais sobre fisiologia aqui no blog é porque eu queria muito ter algo que fosse mais participativo, onde eu recebesse sugestões de temas bem específicos, principalmente situações do nosso dia-a-dia no triathlon e em outros esportes. Isso me força a estudar mais, a ir em busca de muita coisa desconhecida e de atormentar a vida de vários professores pra me dar embasamento e escrever sobre determinados assuntos. Não preciso nem dizer que nem de longe sou o dono da verdade. A intenção é apenas levantar questionamentos e, pela proximidade com a Educação Física e por ser minha área de estudo para o mestrado e nos grupos de pesquisa, consigo desenvolver alguns conceitos que fazem sentido para mim. Aqui, eu compartilharei com vocês, onde espero que também faça sentido. Aí cabe a vocês identificar se é importante ou não! :))

O primeiro tema foi sugerido pelo Ulisses, no grupo IRONBROTHERS, e foi colocado diante da seguinte situação: "Gostaria de saber mais sobre a transformação do nosso corpo para usar mais gorduras do que carboidratos."

Achei bastante oportuno porque é um assunto que influi diretamente na direção do nosso treinamento.

Primeiramente, me vem uma questão: ter eficiência do metabolismo lipídico para quê? Precisamos, antes de tudo, identificar qual é o tipo de esforço predominante em prova do atleta em questão, para então saber se é importante ou não ter tanta eficiência no metabolismo lipídico. Eu compreendi na pergunta que se trata de provas de longa distância, mas só gostaria de ressaltar que nem sempre é oportuno gastar tanto tempo com baixa intensidade, visto que a gordura nunca vai ser mais eficiente do que os carboidratos na capacidade de gerar trabalho, por questões metabólicas e estruturais. Por exemplo,  para um corredor de 10.000 ou um triatleta de curta distância (short ou olímpico), não é interessante super-otimizar o metabolismo lípidico, visto que, para as situações de prova que eles estarão submetidos, é muito mais importante ter o limiar anaeróbico super-fortalecido - e que é completamente dependente dos carboidratos.

Para as provas de longa distância, tenho a impressão de que existe um pouco de confusão diante dos conceitos. Eu pelo menos tenho percebido as pessoas colocando que é possível, num determinado nível de esforço, em vez de utilizar carboidratos como fonte energética, utilizar a gordura - não é bem por aí. Vamos à alguns conceitos fisiológicos.

Em bioenergética, existem alguns fatores que regem a seleção do substrato energético para determinada intensidade e duração do esforço. O corpo seleciona primordialmente o substrato mediante a intensidade.

Vou usar uma situação muito conhecida.

É muito comum, principalmente em academias de ginástica, por exemplo, o comentário dos professores de que antes de 30 minutos nosso corpo não queima gordura. Isso é completamente equivocado por vários fatores. Inicialmente, fomos educados a imaginar o esforço alimentado por somente um substrato, ao passo que a nutrição do esforço, ou até mesmo do estado de repouso, é e sempre será uma mistura dos três macronutrientes - carboidratos, proteínas e gorduras -, regidos primordialmente pela solicitação energética para o momento - e não pela duração (aqui entra o segundo equívoco). Isto acontece por carboidratos, proteínas e gorduras tem capacidades diferentes em gerar trabalho. Não é por acaso que o metabolismo anaeróbico e o esforço pesado em metabolismo aeróbico é regido primordialmente pelos carboidratos, onde se envolve alta energia, e que os baixos esforços e o estado de repouso é regido pelas gorduras. Mas, todos, sem exceção, sempre serão um conjunto de processos onde todos os nutrientes estão envolvidos para tornarem-se uma coisa só ao final disso - ATP. Mas, o que torna o carboidrato mais eficiente em gerar trabalho do que a gordura? Estruturalmente, os carboidratos possuem comprimentos de cadeia bastante inferiores ao das gorduras, que são muito maiores e mais difíceis de serem quebrados.

Vocês já devem ter se perguntado porque estou usando o termo trabalho em vez de energia. Seria errado eu falar que o carboidrato é mais eficiente do que a gordura em gerar energia porque 1g de CHO tem 4 kcal, e 1g de FAT tem 9 kcal (mais que o dobro). Isto é completamente paradoxal, pois, se a gordura fosse tão ágil na disponibilidade e na sua conversão em ATP, provavelmente teríamos esforços humanos que ainda não vimos. Entretanto, o trabalho final não dependente só da capacidade energética do nutriente, mas sim de como ele pode ser processado e multiplicado em ATP.


Tendo isto, na situação colocada pelo Ulisses, vamos entender o que acontece de fato. Fica realmente muito complicado dizer que capacitaremos o nosso corpo para trocar os carboidratos pelas gorduras, porque não é isso que vai acontecer, e se acontecesse, teríamos queda de rendimento. O principal conceito que precisa ficar claro aqui é que o que se quer dizer é que o atleta de longa distância precisa ter boa velocidade em baixa intensidade! Os processos que nos fazem chegar ao ponto de, por exemplo, correr a 3min50s/km com uma FC de 155 bpm, como o Craig Alexander o faz, não envolvem trocar os carboidratos por gorduras, porque esta zona de esforço é comandada pelas gorduras. É um conjunto de adaptações.
O que acontece é que, nas situações de prova de longa distância, estamos em baixa intensidade. Sempre será baixa intensidade, se comparado a um golpe, um tiro de 100m, uma corrida de 1.500m. É baixa intensidade fisiológica. E, ganha uma prova quem é mais veloz. Em um Ironman, depois de 5 horas de prova, nós não conseguiremos sustentar uma intensidade de esforço tão forte quanto conseguiríamos numa corrida solo, por exemplo. E é no que sobra que precisamos tirar o máximo.

Nesse nosso conjunto de adaptações, temos situações como: o atleta corre os 10km com pace de 3min30s/km, por exemplo, entretanto, ao correr a 75% de sua FC, não consegue sustentar um pace abaixo de 4min30s/km. Isto é completamente plausível e esperado tanto no âmbito matemático como no âmbito fisiológico. Isto reflete bastante ineficiência do metabolismo lipídico de produzir trabalho, pois ele não tem sido treinado pra isso. Este atleta, provavelmente, para correr a 4min30/km, terá que sair dos 75%, apesar de continuar com a percepção do esforço em fácil. Os mecanismos que controlarão o estado estável de produção de energia, o controle biomecânico e principalmente as adaptações enzimáticas que selecionarão a gordura para produzir o esforço precisam ser estimulados com trabalhos que envolvam treinar em baixa intensidade, ainda que se tenha que correr em ritmos muito mais lentos do que o usual. Este trabalho, se contínuo, o trará para o seu equilíbrio de proporcionalidade. Essa proporcionalidade é que é o ponto chave, sempre partindo do limiar anaeróbico como referencial. Isto quer dizer compreender que ritmo é esperado para diversas faixas de FC (ou VO2máx ou potência) em função do que você tem hoje para o limiar anaeróbico. Aí você consegue detectar as deficiências do atleta. O contrário também pode acontecer. Um atleta que tem este mesmo limiar anaeróbico e não consegue correr 1km abaixo de 3 min provavelmente tem um condicionamento anaeróbico e adaptações musculares de velocidade bastante ruins!

E, para finalizar, porque isto é bom e tem sido preconizado?!

Essa é mais fácil, e é por um conceito bastante comum, conhecido por nós todos. As nossas reservas de gorduras são infinitamente maiores do que as nossas reservas de carboidratos. A prova de Ironman, querendo ou não, o obrigará a competir regido primordialmente pelo metabolismo lipídico, sempre, justamente pelas reservas de carboidratos, mesmo que repostas, não conseguirem suprir com qualidade o esforço solicitado. Aí, o atleta que conseguiu ganhar velocidade nessa zona, se deu bem! Não foi uma nem duas vezes que vi casos de atletas que correm infinitamente melhor numa prova de Ironman do que outros atletas que, são muito mais velozes em distâncias mais curtas. Lógico que, principalmente numa prova de longa distância,  o desempenho é multi-fatorial, mas, no caso citado, eu conheci a prova e o treinamento dos atletas, e os dois a realizaram em condições bastante parecidas (vale lembrar que o ciclismo influi consideravelmente no desempenho da corrida). O atleta X, que corre os 10 km para 38 min, corria todos os longos num pace 4min25 a 4min30, enquanto o atleta Y, que corre os 10km para 36 min, corria os longos entre 4min30 e 4min40.

Espero que, depois do que foi colocado, vocês já tenham conseguido identificar as causas disso.

Ulisses, obrigado pela sugestão! Foi bastante oportuna!

Grande abraço!!!!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A fórmula da longevidade

Meus queridos,
aqui quem vos fala não é alguém ao final de sua vida, fazendo reflexões do tempo que viveu, do que fez e do que não fez, das pessoas que conheceu ou dos fatos importantes que viveu. Aqui, quem vos fala, é alguém jovem, que ainda tem muito a viver - e está apenas no começo -, mas tem se deparado com uma situação muito forte nesses últimos meses e que gostaria de compartilhá-la. Mais do que uma utilidade pública, mas aqui, minhas palavras estarão repletas de sentimento e amor.

Minha história no triathlon começou mesmo em 2008, mas em 2007 alguns fatos importantes ocorreram. Recém-chegado em Florianópolis, calouro do curso Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Santa Catarina, me deparei com a corrida. Queria entrar em forma, morava com os meus avós, mas, não cheguei a fazer tantos amigos aqui naquela época e também logo de cara não estava gostando da faculdade como imaginei que gostaria. Gastava meu tempo correndo. Sem saber o que era pace, pisada pronada, monitor cardíaco ou ainda que existiam provas de corrida que não eram pra profissionais! Numa dessas corridas, conheci um certo cara, que mais na frente será citado. Naquela época, eu nunca imaginaria, nem pretenderia, tornar-me profissional. Minha estada de 2007 em Florianópolis durou seis meses. Abandonei a faculdade, completaria 19 anos em 2008 e retornei pra casa dos meus pais, em São Luis. Meio sem saber o que fazer, mas também sabendo que sem fazer nada eu não poderia ficar, acabei caindo na Educação Física. Completamente de pára-quedas. Na faculdade de Educação Física, conheci também um outro cara, chamado Ubirajara. Quem conhece, tem noção da loucura que ele transmite ao falar. Eu não sabia, mas o Bira era o cara do triathlon em São Luis. Tinha quase 20 anos de prática, um grande entusiasta, conhecido por todos, figura folclórica, e que mais tarde tornaria-se um grande amigo meu.

Antes de sair de Florianópolis, como disse anteriormente, conheci um cidadão, numa das corridas por Florianópolis. O nome dele era Roberto. Lemos.
Eu passava correndo pela Beira-mar e via um moço instruindo várias pessoas de camisa igual. Não fazia a menor noção do que era aquilo, mas certo dia parei pra perguntar e descobri que existia uma coisa no mundo chamada Assessoria Esportiva. Depois que ele me explicou o que fazia, comecei então a correr, agora estruturadamente. No começo, o Roberto não passava de um instrutor e um treinador. Mas ele, com seu jeito próprio acolhedor e sereno, foi começando a descobrir mais sobre a minha vida e a conversar mais comigo. Mas, a conversa mais importante, ele só teve comigo pela primeira vez uns dois anos depois.Lembro de várias conversas que a gente tinha no começo - quando ele me explicou o que era o triathlon (que eu já tinha uma certa noção), falou do duelo de dois caras chamados Oscar Galindez e Reinaldo Colucci, que tinham chegado em primeiro e segundo lugar  no Ironman daquele ano (lembrava dessa palavra, mas não sei de onde). Descobri também que tinha um monte de gente que fazia triathlon, e corrida também. Monitores cardíacos (naquela época os GPS ainda não tinham adentrado como hoje) - quem tinha o acessório pro tênis era rei naquela época, que marcava a velocidade ou pace; tênis; provas; viagens. Entretanto, só fui me dar por conta muito tardiamente de quem era realmente esta pessoa que me instruía. Eu não sabia nada sobre a vida dele, e depois que descobri, veio aquele espanto. Não sabia que ele havia sido profissional; não sabia que ele já tinha sido campeão mundial de Ironman; não sabia que ele era uma lenda viva no Rio Grande do Sul; não sabia que ele tinha sido 6o. colocado geral no Ironman Brasil 2003; mas, acima de tudo, não sabia que era, justamente por conta deste honroso senhor (ele vai me matar), que continuo fazendo triathlon até hoje! Ir para o 5o. ano pode parecer pouco para chegar e dizer que é tão difícil assim continuar fazendo triathlon - mas, para alguém que tinha acabado de abandonar um curso de engenharia numa universidade federal, não sabia para onde ir nem o que ia fazer, naturalmente a tendência é concentrar as energias numa coisa só. E foi, conseguindo fazer disto tudo uma coisa só - esporte + profissão + paixão -, que eu estou aqui até hoje, e que vou morrer fazendo isso.

Eu retornei pra Florianópolis no final de 2009. Transferi a faculdade pra cá, minha família mora aqui, cresci entre São Luis e Floripa e amo essa cidade a ponto de dizer que não troco ela por lugar nenhum do mundo pra treinar, pra viver, pro que quer que seja. A fórmula da longevidade no esporte eu descobri tanto por acerto e erro, como pelos ensinamentos dos meus pais de nunca ser acomodado, de ser alguém excelente no que se faz, de ter valorestão importantes como ética, moral, responsabilidade e compromisso, e de ser, sobretudo compenetrado e focado, acima de todos os percalços que os caminhos sempre terão; como pela mão daquele então senhor, que hoje é meu treinador, pai, guru, conselheiro, mestre, mentor ou a palavra que vocês quiserem usar. Eu, de fato, não imaginava que o meu hobbie tornaria-se hoje o que é. Não imaginava que ambicionaria correr na elite, afinal, aos 18 anos, eu só tinha nadado quando bebê na escolinha, nunca tinha subido numa bike de corrida e tinha corrido meus primeiros 10km em 52min04s, na Corrida dos Bombeiros, em 2007. E o que tudo isso significa? Significa ter muita sabedoria, paz interior e serenidade para saber planejar a sua vida, não pular etapas, e saber lidar com as coisas que acontecem ao mesmo tempo - principalmente nessa fase, onde muita coisa acontece, e muita coisa importante, relacionada à sua vida pessoal, profissional, estudantil. Não tenho tanto tempo de triathlon, mas já vi muita gente boa (e ruim também) largar o esporte. Os motivos são inquestionáveis, cada um sabe o que é definitivamente melhor pra si! Mas não devemos também ignorar o fato de que muitas coisas em nosso dia-a-dia tendem a nos tirar daqui, pelo menos da forma como fazemos. Treinar duro, viajar pra competir, ir atrás de patrocínios envolve bastante coisa. Envolve gerenciar seu tempo, seu dinheiro, sua vida pessoal, sua logística, sua vida amorosa, sua família, seu descanso e sua mente. Encontrar o equilíbrio disso eu não acredito que seja fácil, e nem acho que encontrei com o meu, mas, uma coisa que me ajudou muito foi o que o Roberto me falou, lá no começo, quando ele viu que as coisas estavam se tornando mais sérias pra mim. Ele sempre foi enfático em me mostrar que esse planejamento era essencial, quase que como a fórmula da longevidade, porque era justamente em meio a essas coisas que ele tinha visto grandes potenciais se perderem. E eu, tenho isto até hoje na minha cabeça. A cada ano que passa, eu tenho de reajustar a minha rotina, e a conjuntura sempre muda. Por exemplo, para os próximos quatro anos, eu terei que treinar muito mais do que eu já treinei até hoje, porque é agora que o cerco começa a apertar para que eu me aproxime ainda mais do alto nível. Em contrapartida, acabei de terminar a faculdade. Vou fazer o que com o diploma? Enfiar no bolso?? De maneira alguma. Mais uma vez, a solução é fazer disto tudo uma coisa só, e as coisas estão se encaixando justamente porque há 4 anos atrás eu PLANEJEI isso. Depois que eu entrei na EF e vi que realmente gostava disso, eu descobri que o caminho para viver esporte 200% do meu dia, que era o que eu queria, era este; para que eu pudesse pensar em me auto-sustentar e cobrir todo esse tempo de maturação esportiva; para que eu pudesse estar num ambiente que eu amo, quase que 24h por dia; para que eu pudesse, sobretudo, contribuir para o crescimento deste esporte!! À medida que somos cada vez mais solicitados em treinamento, viagens, nosso tempo vai encurtando, e ter um emprego que seja completamente compatível, é essencial. E se ele te fizer ser um melhor atleta? Perfeito! E se ele te fizer uma pessoa MUITO feliz? Era o necessário.

Hoje, me deu vontade de compartilhar a minha satisfação e felicidade em saber que estou vivendo hoje exatamente o que planejei anos atrás. Essa sensação é uma das melhores que eu já tive. Estou vivendo exatamente o que eu imaginei na minha cabeça!!!

Planejei voltar pra Florianópolis, por acreditar que era o melhor lugar pra morar, treinar e trabalhar; planejei poder treinar em alto nível o tempo que fosse preciso, afinal, a estrada é muito longa e eu ainda tenho que treinar muito pra poder andar com os melhores (viver a transição do amador para o profissional envolve a colocação de muita energia, e eu estou só no começo dela), mas sem passar dificuldade financeira e poder custear o que eu não conseguisse através de patrocínios; planejei ser um bom profissional e amante da Educação Física, enquanto ciência, fazendo tudo que eu pudesse para compartilhar meus pensamentos e minhas ideias que tenho sobre as coisas - me sinto muito honrado, privilegiado e satisfeito por ter sonhado e hoje ter um espaço - ser colunista de Fisiologia do Exercício do maior portal de triathlon do Brasil, o site MundoTRI, que é justamente esse espaço que tenho para pensar e escrever e chegar até às pessoas; planejei escolher uma área de atuação na EF onde eu pudesse utilizar as minhas capacidades e que pudesse atender às minhas necessidades da rotina... E como ainda tenho planos pela frente!! Mas, ao ver as coisas se organizarem, a sensação é indescritível. Eu sofri. Sofri por antecedência. Tive medo. Não sabia exatamente o que aconteceria quando a fase de só estudar passasse, e eu tivesse que botar a mão na massa. Me questionei diversas vezes se eu aguentaria fazer tudo, ou se os meus planos dariam certo...

Hoje, moro no melhor lugar do mundo, tenho a melhor mulher do mundo, os melhores pais do mundo, o melhor treinador do mundo, tenho uma estrutura de treinamento milimetricamente integrada no meu dia-a-dia onde perder treinos é praticamente impossível (a melhor do mundo rs!), tenho patrocinadores e apoiadores que estão caminhando junto comigo (os melhores do mundo! rs.), tenho um trabalho maravilhoso que me permite sonhar, fazer e planejar, e, sobretudo, uma vida que eu AMO e que quero pro resto dos meus dias. (também os melhores do mundo!).

O que tenho pra falar pra vocês é que, planejar é essencial. Se você tiver sorte de ter pessoas que te facilitem organizar as idéias - como eu tive meus pais, minha namorada, meu treinador e meus amigos, a probabilidade de você dar errado é muito pequena. A sua fórmula da longevidade está apenas ao alcance das suas mãos, desde que você ame muito o que faz e queira isso pro resto dos seus dias!

Tenho que agradecer profundamente também os meus pais, que sempre acreditaram em mim e possibilitaram todo esse começo de uma vida, sempre me mostraram como as coisas devem ser feitas, ditas e ouvidas e sempre me inspiraram a ser igual a eles: EXCELENTES!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Um pouco de contemporaneidade...

Pessoal, sei que vocês devem estar me achando completamente maluco, mas isso aqui é fruto de um "estalo" natural que eu não sei se todo mundo já viveu, mas pelo menos eu o completei ao longo de alguns anos de formação e de vida.

Juro pra vocês, sempre fiquei me perguntando, desde a minha época de escola, porque tanta coisa na disciplina de História tinha sido realmente significativa. Ou melhor, porque se falavam de tantas obras e de tantos assuntos que numa impressão mais imatura (a da época), se faziam completamente desnecessárias e superficiais. Isso aqui não é uma ataque de pseudo-intelectualismo, mas só o estalo de um cidadão comum de achar um significado da importância de muita coisa que nos foi ensinado tanto na escola e na faculdade. Na realidade, poderia listar muitos, de várias áreas (Matemática, Física, Química, Geografia) mas hoje estou motivado a falar sobre alguns fatos, obras e contextos que nos são apresentados e que eu, durante muito tempo, não entendi o porquê! Não cabe a mim julgar se é realmente necessário uma pessoa de 15 anos saber disso, ou mesmo se um futuro economista deve ou não ler determinada coisa na graduação. Mas, a verdade é que acabei indo mais a fundo no assunto, e cheguei até a comprar alguns livros, como O Contrato Social, de Rosseau; O Príncipe, de Nicolau Maquiavél; O Leviatã, de Thomas Hobbes pra entender do que realmente se trata! Pra mim, tudo isso sempre pareceu muito "filosofismo" típico dos nossos métodos de ensino... vejo que me enganei redondamente. Agora sei porque estudamos ainda hoje obras de 500 anos atrás.

Pode parecer loucura, mas parece que um grande vazio foi preenchido a partir do momento que consegui compreender a conjuntura geral de grandes fatos históricos que todos nós pelo menos já ouvimos falar - Revolução Francesa, Absolutismo, Revolução Industrial etc. Na minha graduação, tive contato com estes assuntos novamente, seja pra discutir as relações trabalhistas, seja pra caracterizar um momento, mas, o que quero dizer, que foi aí onde minha visão começou a mudar. Aqui, os professores de História vão me agradecer pelo comentário, mas foi quando comecei a perceber a importância de se entender a história para se viver o presente ou até mesmo planejar o futuro. Não sei se é do ímpeto de todos, mas eu tenho uma necessidade muito grande de entender o momento que estou vivendo hoje!

Vejam só, que para minha surpresa, Rosseau nada mais queria do que mostrar que todo cidadão tinha uma relação de deveres com a sociedade em que se vive, e que deveria ser uma relação horizontal, de associação, e não hierárquica, de submissão. Na realidade, preocupações e considerações básicas sobre a liberdade que é natural do homem e como a sociedade trata de tirar. Essa mesma noção é compartilhada por Hobbes, só que sob outra ótica. De certa forma, essa noção de liberdade, que para Rosseau é vista com bons olhos, para Hobbes é a justificava pela qual o chefe de estado (na época o rei) deve ser autoritário e deve ser por onde ele fará valer suas prerrogativas de governo - tolhendo os cidadãos de sua total liberdade. Chega a ser engraçado, mas, eu só fui descobrir depois de uns 6 anos que O Príncipe não era um conto, e sim um verdadeiro tratado sobre de como um chefe de estado deveria governar seus subordinados. Mas, juro, eu sempre achei que fosse um livro com um conto, ou uma fábula (o título é meio sugestivo). Tendo isso em mente, comecei a entender porque isso nos foi apresentado, porque na faculdade temos de ler essas obras na íntegra, e até arrisco dizer que todo bom cidadão deveria pelo menos conhecer o conteúdo e sobre o que fala, porque explica exatemente como evoluiu, filosoficamente, os nossos sistemas políticos, o partidarismo, por quem somos comandados, o que os interessam, e por aí vai. Na realidade, essas obras não explicam o regime político que vivemos hoje, até porque não vivemos num estado (teórico) absolutista, mas explicam algumas coisas das nossas relações do dia-a-dia, ou mesmo de alguns componentes do Estado atual.

Agora, saindo desse resumo literário, vou pro que interessa.

Em nossas relações sociais, do dia-a-dia, fazemos política - seja dentro de casa, seja em nosso trabalho, seja no nosso círculo de amizade. Política, com P maiúsculo, é completamente diferente da política partidária. Todos nós, independente das orientações partidárias, temos vontades, ambições na vida, que só serão atingidas com a colaboração de outras pessoas, que, igualmente a nós, também têm vontades, ambições. Saber que essa relação simbiótica é extremamente necessária em TUDO que fazemos explica porque muitas pessoas não conseguem ter o que queriam. Todo mundo, na realidade, deveria saber, mesmo que não cumpramos, das cláusulas do contrato que temos com a sociedade em que vivemos. Todo mundo deveria saber porque algumas pessoas nascem para a liderança ou para a chefia, e outras passarão todos os seus dias na escuridão. Até mesmo, nas nossas relações familiares, que Rosseau considera ser a primeira instituição política da qual fazemos parte, não conseguimos nada sem a troca de sentimentos, de vontades e de permissões. Em nossos relacionamentos amorosos, os maiores desafios, acredito eu, são o controle de nossas liberdades ao dividir uma vida com o outro - em outras palavras, até quando a nossa necessidade afetiva avança sem tirar a liberdade de quem somos unidos. À medida de que o homem (ser-humano) perdeu a sua liberdade, o relacionamento acabou, a vida acabou. É óbvio que devemos considerar que Rosseau foi um dos principais expoentes do Iluminismo, um movimento ideológico da Revolução Francesa que pregava três princípios básicos (acredito que do conhecimento da maioria) - liberdade, igualdade e fraternidade, e por isso sua obra é inteiramente galgada no homem livre, e sabemos que o ser humano hoje não é inteiramente livre, não somos inteiramente fraternos e também não vivemos sob o regime socialista (e nem queria que vivêssemos). Mas, de certa forma, acredito que ele foi feliz em mostrar como a liberdade rege a nossa existência.

Mas, dentro disso, fiquei atento para um fato que também não sei se está tão claro para todos, mas a grande verdade é que estamos tendo o privilégio (ou o azar) de viver um momento histórico que em 200 ou 300 anos aparecerá nos livros exatamente como lemos sobre o que aconteceu na Idade Média, Moderna, as Revoluções Sociais... enfim... um registro histórico.

Me dei conta de que, daqui a 300 anos, o Oriente Médio em conflito, o PIB chinês aumentando ano após ano e a crise imobiliária americana, que são assim como os fatos são apresentados pra nós hoje, estaremos falando de uma "Revolução Árabe", ou a "Queda das ditaduras árabes", a queda do Império Americano e a ascenção do Império Chinês. Todas essas coisas nada menos refletem o fortalecimento de uma nação, o enfraquecimento de outra e a luta pela liberdade (olha aqui a liberdade de novo) de mais outras. Aliás, só agora, depois de pouco mais de um ano após o primeiro conflito na Tunísia, foi que comecei a entender o que estava acontecendo de fato no Oriente Médio. Não consegui entender a conexão dos fatos. O noticiário confunde muito a nossa cabeça e não nos fornece as informações de forma interligada. Não conseguia entender porque todos os países resolveram entrar em guerra civil ao mesmo tempo, mas, para a minha surpresa, depois que fui investigar, este caos não é aleatório. É um efeito dominó que teve início com a Tunísia, e que se refletiu na Líbia com o povo lutando por sua liberdade (queda de Khadafi), e que se refletiu no Egito com o povo lutando por sua liberdade (Hosni Mubarak), e que se refletiu na Síria com o povo lutando pela sua liberdade, e assim sucessivamente. Quem nunca se perguntou porque o Oriente Médio está em conflito? Pelo menos, desde que eu nasci, o Oriente Médio nunca viveu tempos de paz. E a explicação vai muito além de conflitos religiosos, como todos pensamos que é o fator principal - que depois descobri não ser, e sim os regimes ditatoriais e a intervenção constante do Estado na vida das pessoas. A verdade é que o mundo hoje, não aceita mais essas relações sociais - hierárquicas, tolhidas, engessadas. Hoje, a um click, conseguimos levar a informação para o outro lado do mundo através do Facebook ou Twitter. Se eu pudesse premiar a invenção do século até então, premiaria o feed de notícias como a grande invenção (acho que exagerei um pouco, mas nem tanto)! Da força viral que ele detém todos nós já sabemos, mas o que desconhecemos é como essa dinâmica social hoje é crucial e abre possibilidades! Porque será que os nossos pais hoje se sentem obrigados a ter uma conta na rede social? Há 5 anos atrás, praticamente só nós, adolescentes e recém-saídos da adolescência caminhávamos pela rede, postando apenas fotos e fazendo comentários da vida alheia. Mas as redes sociais tornaram-se muito mais do que isso. Facilitam serviços, a dinâmica das informações, e, inclusive as intranets (redes internas empresariais) estão se reformulando, para um formato similar ao que o Facebook possui. Sei que isto também é efêmero, assim como o Orkut foi, mas abre caminhos somente para a evolução - por isso se fala hoje em guerra tecnológica, com potencial destruitivo muito maior do que uma guerra nos moldes que conhecemos. Experimente derrubar o servidor de um país - há 10 anos atrás, o máximo que acontecia era deixar o mIRC fora do ar e mais algumas notícias. Hoje, tornam inacessíveis banco de dados, controles industriais, redes bancárias, e por aí vai. Vejam só: um "simples" vídeo no Youtube, postado nos EUA, causou sangue, e muito sangue, no Oriente Médio. Eis a globalização, meu povo.

O que isso tem a ver conosco, Luquinha? Hehehe, sinceramente não sei, mas consigo dormir mais tranquilo entendendo, ligeiramente, o que está acontecendo a minha volta, e é empolgante saber que estou vivendo um "momento" histórico. Pena que não vou estar vivo daqui a 300 anos para ler nos livros o que li sobre quedas de impérios, ascenção de outros e revoluções industriais! Hahaha!

Grande beijo a todos (acho que viajei um pouco demais hoje)!



quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Cinco pilares fisiológicos mais importantes para melhorar sua natação.

Galera,
segue o artigo escrito por mim e pelo meu treinador Roberto Lemos na edição especial de Natação da revista MundoTRI. Pra quem não leu ou não é assinante, aí está!





Cinco pilares fisiológicos mais importantes para melhorar a sua natação

                Embora a fisiologia humana seja uma só, e os pilares abordados aqui sejam integrantes das três disciplinas do triathlon, tentaremos ao máximo adaptar os comentários e o contexto para o tema desta edição especial, que é a natação.
                O desempenho final em uma prova é um composto da melhoria de diversas valências fisiológicas - que aqui chamaremos de pilares -, tal como num bolo, tendo cada um a sua parcela de importância e relevância. Um bom atleta é aquele que tem estas valências bem dosadas e equilibradas, e, sabendo disso, você poderá saber como começar ou continuar a trabalhar em cima da sua natação.
                Um ponto crucial antes de entramos na discussão deste tema é a negligência de muitos triatletas com esta modalidade – principalmente pelos amadores. Dentro do triathlon profissional, dada a dinâmica alucinante da prova, seja num triathlon olímpico ou num Ironman, negligenciar esta modalidade pode significar um tiro no pé. Não se sabe ao certo ainda o porquê e a origem disto, entretanto, uma causa provável é a maior exigência técnica desta modalidade, que choca-se com o início tardio de muitos praticantes no triathlon – o que não significa uma condição para uma má natação. É possível aprender a nadar depois dos 30, mas são muito poucos aqueles que se dedicam durante anos e anos no aspecto técnico desta modalidade, e porque, em geral, para muitos, o discurso é que o esforço despendido não é compensado pelo ganho de tempo na principal prova em que competem, que é o Ironman. Mas, dentro do aspecto metodológico e fisiológico, não há nada que impeça um triatleta que tenha começado a nadar tarde a alcançar um nível de natação competitivo para a maioria das provas de triathlon – desde que ele saiba que pontos deve trabalhar e como deve trabalhar, e que isto vai levar tempo – bastante tempo. É muito comum ouvir queixas dos triatletas que nadar é desconfortável, desmotivante, que a sensação é de não render dentro da água, o que acaba gerando desmotivação e consequentemente maior prioridade para o ciclismo e a corrida. Não é tão natural para o ser humano sair nadando como é sair correndo...
                Para abordarmos os aspectos fisiológicos, outra ressalva – existe um pilar, acima de toda a parte fisiológica, que é a condição básica para a execução de todos os esforços, que é o aspecto biomecânico – leia-se técnica. Isto acontece porque,  através da eficiência biomecânica que é possível se atingir as zonas fisiológicas propostas para cada intensidade de esforço. Muitas vezes, um atleta ineficiente, não conseguirá fazer um trabalho decente de VO2 máximo, pois não tem fundamento técnico que o permita manter-se nesta intensidade. A técnica pode – e deve – ser trabalhada em todos os momentos do treinamento e da vida do atleta. No período de base e no período competitivo, na etapa de formação ou às vésperas de uma olimpíada. Existe sempre algum ponto a ser melhorado, algum detalhe a ser corrigido. É só visitar uma sessão de treinamento de nadadores de alto nível, numa piscina com mais de 30 nadadores, que religiosamente começam o treino com educativos das mais variadas linhas – sensibilidade, coordenação, correção mecânica – e com um técnico que está sempre em cima sinalizando as correções durante o nado. Tanto os educativos como a correção durante o nado contínuo são métodos eficientes, e que devem ser combinados. Esse é um dos motivos que faz da natação uma modalidade onde a presença do técnico na borda da piscina é essencial. Os triatletas, sempre que puderem, devem procurar uma escola de natação, uma equipe de másters ou uma equipe de nadadores em que possam fazer parte e ter um acompanhamento mais próximo para que este aspecto seja sempre trabalhado.
                Enfim, discutido estes pontos de introdução, vamos à parte fisiológica – para efeitos didáticos, serão abordados do mais geral para o mais específico.

- Condição aeróbica

                Este aspecto é a base fisiológica para a melhoria de todos os outros. É através da melhoria da sua condição aeróbica onde as adaptações cardiovasculares acontecerão, como redução da frequência cardíaca de repouso e durante o esforço, aumento do metabolismo das gorduras – o corpo humano possui um estoque muito maior de gorduras do que de carboidratos; o atleta que for mais eficiente com este tipo de combustível, se tornará mais independente e econômico do que outro menos treinado; aumento do débito cardíaco – o débito cardíaco é o produto da frequência cardíaca (FC) pelo volume sistólico (VS); para cada contração do músculo cardíaco, existe um volume de sangue ejetado na sístole, sendo o do ventrículo esquerdo o mais importante, e, através da multiplicação pela FC, têm-se o volume de sangue ejetado por minuto, que é o débito cardíaco (DC) – aumento da vascularização, aumento da quantidade de mitocôndrias – as mitocôndrias são as enzimas responsáveis pela produção de energia aeróbica.
                A melhoria da condição aeróbica básica deve ser feito essencialmente com estímulos de intensidade baixa a moderada, e da condição aeróbica específica com estímulos de intensidade moderada a forte (até o VO2 máximo). Na natação, isto pode ser alcançado através de séries de volume mais elevado e intensidade moderada, com microintervalos. Um exemplo, para um nadador que possui 20min nos 1.500m (1’20/100m), seria 6x400m a cada 6min15 com chegadas para 5’45 (ritmo de 1’27/100m).

- Limiar anaeróbico
               
                Mais próximo da intensidade de ritmo de prova, o treinamento no limiar anaeróbico é fundamental para a melhoria da capacidade funcional, eficiência na zona de prova e máximo estado estável do condicionamento aeróbico. Como já dissemos em outras colunas sobre fisiologia, o limiar anaeróbico é o máximo estado estável do condicionamento aeróbico, onde ainda existe um equilíbrio entre a produção e a remoção do lactato sanguíneo, estabilidade ventilatória (respiração), estabilidade de frequência cardíaca e estabilidade orgânica. Um bom indicador subjetivo na natação para os treinos de limiar anaeróbico é observar a técnica do nadador. Até esta intensidade, é possível que o nadador consiga treinar dentro do seu padrão de braçadas habitual e nível de esforço habitual. Se o treinador notar que o número de braçadas está aumentando, ou que o atleta está perdendo eficiência e, como se diz popularmente, “batendo na água”, isto pode indicar zona errada ou pouco glicogênio muscular. O atleta que possui um limiar bem treinado provavelmente é aquele que vai puxar o pelotão durante a etapa da natação, pois é muito eficiente no nado estável e possui bastante endurance muscular específica. Para o nosso nadador hipotético, que possui 20min nos 1.500m, um exemplo de séries de limiar anaeróbico pode ser 15 a 20x100m a cada 1min30 com chegadas para 1min20 a 1min18. As séries também são feitas com microintervalos pois o que se visa aqui é melhorar a eficiência nesta zona, e não a aquisição de velocidade.

VO2 máximo –

                 Esta valência traduz a capacidade máxima de trabalho do metabolismo aeróbico. Para que seja plenamente atingida, são necessárias sobrecargas de 3 a 8min com recuperação quase que completa, pois as vias de energia são prioritariamente dos carboidratos, e este precisa de tempo para ser ressintetizado, as reservas de adenosina trifosfato (ATP) restauradas e o oxigênio intra-muscular também. Através do trabalho nesta zona, pode-se, além de adquirir velocidade, pois é um trabalho acima da velocidade de competição, também melhorar situações específicas, como os primeiros 400m de uma prova de triathlon. Um atleta com um bom VO2máx provavelmente é aquele que vai passar a primeira bóia puxando o pelotão. A intensidade de trabalho é pesada, e séries-padrão, para o nosso nadador hipotético, que tem 20min nos 1.500m (1min20/100m), seriam – 3x4x100m saindo em 2min com chegadas para 1min14s a 1min12s, com 5min de intervalo a cada 4 repetições, ou 3min solto.

Potência anaeróbica –
               
                Mais específica ainda para determinadas situações, a potência anaeróbica traduz a capacidade do atleta de produzir lactato. Um atleta bem treinado nesta zona consegue produzir concentrações de lactato superiores a 10 mmol/L (um valor bem alto, considerando que adota-se em geral 4mmol/L a concentração de lactato para o limiar anaeróbico). É necessária a recuperação completa após cada tiro nesta zona para que se treine eficientemente nela. É muito comum, através da percepção do esforço, atletas treinarem erroneamente, pois as sensações percebidas nem sempre refletem fielmente o que acontece no ambiente interno do corpo. É necessário também um bom estoque de glicogênio para o trabalho nesta zona, que é plenamente glicolítica (só utiliza carboidratos como fonte de energia). A produção de lactato é alta e após esta série, indica-se uma soltura mais longa. O trabalho de potência anaeróbica, além de melhorar força e potência muscular, traz ao atleta uma segurança maior e maior independência durante a prova, quando for preciso ter mais força numa largada, ou ataques em bóias, saídas na água, ultrapassagens, tentativas de quebra de pelotão na água (o que é muito comum em acontecer em provas com vácuo). Os triatletas de longa distância podem até se beneficiar do trabalho nesta zona, mas somente em alguns momentos da temporada e feitos da maneira correta. Dificilmente utilizarão esta zona de esforço durante a prova, portanto, triatletas de provas no formato da ITU ou de provas mais curtas em geral devem gastar mais tempo treinando nessa zona. Um exemplo de série para o nosso nadador hipotético seria – 2x100m a cada 3min para 1min08 a 1min07, 4x50m para 33s e 4x25m para 15s a 14s. O volume de trabalho deve ser reduzido por conta da alta concentração de lactato. Entretanto, como em qualquer periodização, o volume é sempre proporcional a quilometragem semanal rodada.

- Velocidade Alática (VA)

                O trabalho nesta zona é fundamental para a melhoria técnica e da eficiência mecânica de todos os tipos de triatletas, e é muito pouco realizado pela maioria. Nos tiros de velocidade alática, a via utilizada chama-se Creatina Fosfato (ATP-CP), que é uma fonte praticamente instantânea e potente que existe no musculo esquelético. Entretanto, a eficiência dela só dura aproximadamente 10s, onde, a partir daí, entra-se no metabolismo anaeróbico lático (e obrigatoriamente a intensidade de trabalho se reduz). Como não existe produção de lactato nesta zona, apesar de ser metabolismo anaeróbico (sem a presença de oxigênio), é pouco lesiva ao ambiente fisiológico e pode ser feita em todos os momentos da temporada. Um dos maiores benefícios, como já citado, é a melhoria biomecânica e correções técnicas, que são beneficiadas pela alta intensidade e principalmente pelo alta frequência de braçadas. Os tiros de VA são feitos com alta frequência de braçadas, e, neste caso, é muito oportuno o auxílio de materiais para o que se chama de Velocidade Auxiliada (ou velocidade ajudada). Como o objetivo é o exagero biomecânico e melhorar a velocidade de contato com a superfície e finalização de braçada, o uso de nadadeiras ou nadadeiras combinadas com palmares é muito eficiente. As séries podem ser realizadas com ou sem materiais. Um exemplo para o nosso nadador hipotético seria – 10x25m a cada 1min, progressivo a cada 4 braçadas; ou 10x25m 12,5 VA / 12,5 solto. Os tiros não devem durar os 25m inteiros, a menos que você os nade em 10s (o que seria um pouco fora da nossa realidade, visto que o recorde mundial de 25m é muito próximo disto). Portanto, utiliza-se somente uma parte do tiro de 25m para se realizar este trabalho. Pode ser feito antes da série principal ou após, dependendo do tipo do treino do dia. Nadadores comumente fazem trabalho de velocidade alática todo dia, em todas as sessões de treinamento (manhã e tarde), e os triatletas também podem fazer. Uma variação deste trabalho também pode ser somente realizar com pernadas. Funciona da mesma maneira.

Por fim, acreditamos que estas são as valências fisiológicas mais importantes, apesar de existirem outros aspectos, como força, fundamentos, tipos de pernada, sensibilidade, que também compõe o desempenho desportivo na natação. Esperamos que os exemplos também tenham ajudado a visualizar não somente a teoria, mas como aplicar em seu treino.
Até a próxima!