terça-feira, 25 de setembro de 2012

Um pouco de contemporaneidade...

Pessoal, sei que vocês devem estar me achando completamente maluco, mas isso aqui é fruto de um "estalo" natural que eu não sei se todo mundo já viveu, mas pelo menos eu o completei ao longo de alguns anos de formação e de vida.

Juro pra vocês, sempre fiquei me perguntando, desde a minha época de escola, porque tanta coisa na disciplina de História tinha sido realmente significativa. Ou melhor, porque se falavam de tantas obras e de tantos assuntos que numa impressão mais imatura (a da época), se faziam completamente desnecessárias e superficiais. Isso aqui não é uma ataque de pseudo-intelectualismo, mas só o estalo de um cidadão comum de achar um significado da importância de muita coisa que nos foi ensinado tanto na escola e na faculdade. Na realidade, poderia listar muitos, de várias áreas (Matemática, Física, Química, Geografia) mas hoje estou motivado a falar sobre alguns fatos, obras e contextos que nos são apresentados e que eu, durante muito tempo, não entendi o porquê! Não cabe a mim julgar se é realmente necessário uma pessoa de 15 anos saber disso, ou mesmo se um futuro economista deve ou não ler determinada coisa na graduação. Mas, a verdade é que acabei indo mais a fundo no assunto, e cheguei até a comprar alguns livros, como O Contrato Social, de Rosseau; O Príncipe, de Nicolau Maquiavél; O Leviatã, de Thomas Hobbes pra entender do que realmente se trata! Pra mim, tudo isso sempre pareceu muito "filosofismo" típico dos nossos métodos de ensino... vejo que me enganei redondamente. Agora sei porque estudamos ainda hoje obras de 500 anos atrás.

Pode parecer loucura, mas parece que um grande vazio foi preenchido a partir do momento que consegui compreender a conjuntura geral de grandes fatos históricos que todos nós pelo menos já ouvimos falar - Revolução Francesa, Absolutismo, Revolução Industrial etc. Na minha graduação, tive contato com estes assuntos novamente, seja pra discutir as relações trabalhistas, seja pra caracterizar um momento, mas, o que quero dizer, que foi aí onde minha visão começou a mudar. Aqui, os professores de História vão me agradecer pelo comentário, mas foi quando comecei a perceber a importância de se entender a história para se viver o presente ou até mesmo planejar o futuro. Não sei se é do ímpeto de todos, mas eu tenho uma necessidade muito grande de entender o momento que estou vivendo hoje!

Vejam só, que para minha surpresa, Rosseau nada mais queria do que mostrar que todo cidadão tinha uma relação de deveres com a sociedade em que se vive, e que deveria ser uma relação horizontal, de associação, e não hierárquica, de submissão. Na realidade, preocupações e considerações básicas sobre a liberdade que é natural do homem e como a sociedade trata de tirar. Essa mesma noção é compartilhada por Hobbes, só que sob outra ótica. De certa forma, essa noção de liberdade, que para Rosseau é vista com bons olhos, para Hobbes é a justificava pela qual o chefe de estado (na época o rei) deve ser autoritário e deve ser por onde ele fará valer suas prerrogativas de governo - tolhendo os cidadãos de sua total liberdade. Chega a ser engraçado, mas, eu só fui descobrir depois de uns 6 anos que O Príncipe não era um conto, e sim um verdadeiro tratado sobre de como um chefe de estado deveria governar seus subordinados. Mas, juro, eu sempre achei que fosse um livro com um conto, ou uma fábula (o título é meio sugestivo). Tendo isso em mente, comecei a entender porque isso nos foi apresentado, porque na faculdade temos de ler essas obras na íntegra, e até arrisco dizer que todo bom cidadão deveria pelo menos conhecer o conteúdo e sobre o que fala, porque explica exatemente como evoluiu, filosoficamente, os nossos sistemas políticos, o partidarismo, por quem somos comandados, o que os interessam, e por aí vai. Na realidade, essas obras não explicam o regime político que vivemos hoje, até porque não vivemos num estado (teórico) absolutista, mas explicam algumas coisas das nossas relações do dia-a-dia, ou mesmo de alguns componentes do Estado atual.

Agora, saindo desse resumo literário, vou pro que interessa.

Em nossas relações sociais, do dia-a-dia, fazemos política - seja dentro de casa, seja em nosso trabalho, seja no nosso círculo de amizade. Política, com P maiúsculo, é completamente diferente da política partidária. Todos nós, independente das orientações partidárias, temos vontades, ambições na vida, que só serão atingidas com a colaboração de outras pessoas, que, igualmente a nós, também têm vontades, ambições. Saber que essa relação simbiótica é extremamente necessária em TUDO que fazemos explica porque muitas pessoas não conseguem ter o que queriam. Todo mundo, na realidade, deveria saber, mesmo que não cumpramos, das cláusulas do contrato que temos com a sociedade em que vivemos. Todo mundo deveria saber porque algumas pessoas nascem para a liderança ou para a chefia, e outras passarão todos os seus dias na escuridão. Até mesmo, nas nossas relações familiares, que Rosseau considera ser a primeira instituição política da qual fazemos parte, não conseguimos nada sem a troca de sentimentos, de vontades e de permissões. Em nossos relacionamentos amorosos, os maiores desafios, acredito eu, são o controle de nossas liberdades ao dividir uma vida com o outro - em outras palavras, até quando a nossa necessidade afetiva avança sem tirar a liberdade de quem somos unidos. À medida de que o homem (ser-humano) perdeu a sua liberdade, o relacionamento acabou, a vida acabou. É óbvio que devemos considerar que Rosseau foi um dos principais expoentes do Iluminismo, um movimento ideológico da Revolução Francesa que pregava três princípios básicos (acredito que do conhecimento da maioria) - liberdade, igualdade e fraternidade, e por isso sua obra é inteiramente galgada no homem livre, e sabemos que o ser humano hoje não é inteiramente livre, não somos inteiramente fraternos e também não vivemos sob o regime socialista (e nem queria que vivêssemos). Mas, de certa forma, acredito que ele foi feliz em mostrar como a liberdade rege a nossa existência.

Mas, dentro disso, fiquei atento para um fato que também não sei se está tão claro para todos, mas a grande verdade é que estamos tendo o privilégio (ou o azar) de viver um momento histórico que em 200 ou 300 anos aparecerá nos livros exatamente como lemos sobre o que aconteceu na Idade Média, Moderna, as Revoluções Sociais... enfim... um registro histórico.

Me dei conta de que, daqui a 300 anos, o Oriente Médio em conflito, o PIB chinês aumentando ano após ano e a crise imobiliária americana, que são assim como os fatos são apresentados pra nós hoje, estaremos falando de uma "Revolução Árabe", ou a "Queda das ditaduras árabes", a queda do Império Americano e a ascenção do Império Chinês. Todas essas coisas nada menos refletem o fortalecimento de uma nação, o enfraquecimento de outra e a luta pela liberdade (olha aqui a liberdade de novo) de mais outras. Aliás, só agora, depois de pouco mais de um ano após o primeiro conflito na Tunísia, foi que comecei a entender o que estava acontecendo de fato no Oriente Médio. Não consegui entender a conexão dos fatos. O noticiário confunde muito a nossa cabeça e não nos fornece as informações de forma interligada. Não conseguia entender porque todos os países resolveram entrar em guerra civil ao mesmo tempo, mas, para a minha surpresa, depois que fui investigar, este caos não é aleatório. É um efeito dominó que teve início com a Tunísia, e que se refletiu na Líbia com o povo lutando por sua liberdade (queda de Khadafi), e que se refletiu no Egito com o povo lutando por sua liberdade (Hosni Mubarak), e que se refletiu na Síria com o povo lutando pela sua liberdade, e assim sucessivamente. Quem nunca se perguntou porque o Oriente Médio está em conflito? Pelo menos, desde que eu nasci, o Oriente Médio nunca viveu tempos de paz. E a explicação vai muito além de conflitos religiosos, como todos pensamos que é o fator principal - que depois descobri não ser, e sim os regimes ditatoriais e a intervenção constante do Estado na vida das pessoas. A verdade é que o mundo hoje, não aceita mais essas relações sociais - hierárquicas, tolhidas, engessadas. Hoje, a um click, conseguimos levar a informação para o outro lado do mundo através do Facebook ou Twitter. Se eu pudesse premiar a invenção do século até então, premiaria o feed de notícias como a grande invenção (acho que exagerei um pouco, mas nem tanto)! Da força viral que ele detém todos nós já sabemos, mas o que desconhecemos é como essa dinâmica social hoje é crucial e abre possibilidades! Porque será que os nossos pais hoje se sentem obrigados a ter uma conta na rede social? Há 5 anos atrás, praticamente só nós, adolescentes e recém-saídos da adolescência caminhávamos pela rede, postando apenas fotos e fazendo comentários da vida alheia. Mas as redes sociais tornaram-se muito mais do que isso. Facilitam serviços, a dinâmica das informações, e, inclusive as intranets (redes internas empresariais) estão se reformulando, para um formato similar ao que o Facebook possui. Sei que isto também é efêmero, assim como o Orkut foi, mas abre caminhos somente para a evolução - por isso se fala hoje em guerra tecnológica, com potencial destruitivo muito maior do que uma guerra nos moldes que conhecemos. Experimente derrubar o servidor de um país - há 10 anos atrás, o máximo que acontecia era deixar o mIRC fora do ar e mais algumas notícias. Hoje, tornam inacessíveis banco de dados, controles industriais, redes bancárias, e por aí vai. Vejam só: um "simples" vídeo no Youtube, postado nos EUA, causou sangue, e muito sangue, no Oriente Médio. Eis a globalização, meu povo.

O que isso tem a ver conosco, Luquinha? Hehehe, sinceramente não sei, mas consigo dormir mais tranquilo entendendo, ligeiramente, o que está acontecendo a minha volta, e é empolgante saber que estou vivendo um "momento" histórico. Pena que não vou estar vivo daqui a 300 anos para ler nos livros o que li sobre quedas de impérios, ascenção de outros e revoluções industriais! Hahaha!

Grande beijo a todos (acho que viajei um pouco demais hoje)!



4 comentários:

  1. viagem??? estamos vivendo história´.... Fc está já a escreve-la...Muito bom... Quisera eu ter argumentos pra complementar alguma coisa no seu texto.... Rsrs...Só

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  2. Show meu caro...

    Precisamos deste tipo de exercício de noção social, de entendimento da nossa história social para não repetirmos erros do passado. Quem dera todos no Brasil tivessem o mesmo nível de acesso a informação que você declara neste texto. Esta falta de cultura social é o grande câncer do pais, cultivado com carinho pelos poucos privilegiados que fazem de tudo para manter o povo na ignorância. Um povo ignorante é uma massa de manobra quieta, fácil de satisfazer, fácil de dobrar...

    Novamente, meus parabéns...

    PS: O Vagnão vai amar...

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  3. É... lembrando que a ideia principal de cada governo é sempre ter menos problemas possíveis com sua população.
    Falando bem o português é quanto menos gente brigando e lutando por seus direitos, melhor.
    Como o Emiltri disse, é mais fácil de controlar a massa que não pensa.

    Ja escrevi um texto que diz que nós brasileiros somos uma misturança incrível de raças.

    Isso nos torna muito bons fisicamente e mentalmente para ALGUNS trabalhos e atividade, mas para outros quesitos somos uma lástima.

    Não lutamos, somos mansos.

    É como no caso das abelhas africanas.
    Mel maravilhoso mas insetos extremamente bravos.
    Cruzaram e melhoraram geneticamente para continuarem tendo um mel maravilhoso e serem mansas para aceitarem serem dominadas.

    Não vou me alongar muito, mas a ideia principal é uma sociedade com reciprocidade entre governo e população.
    E não feudo que vemos hj.

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  4. Cirão, sobre as raças...

    Eu ia falar sobre isso no texto, mas preferi deixar pra depois! Mas, teoricamente, existe uma grande diferença entre Estado e Nação. Nação é um grupo com a mesma cultura, com a mesma religião, com os mesmos hábitos, com a mesma língua e mesmos costumes. Estado é um espaço geográfico com poder unificado, território delimitado, que possui regras e espaço para começar e terminar. O grande lance é que dentro de um Estado podem conviver várias nações - que é o caso da África, que é o caso do Oriente Médio - o Brasil passa ligeiramente disso, se considerarmos a nação indígena. É por isso que a instabilidade reina na África e no Oriente Médio! Se cada nação na África fosse um Estado, criado conteria mais de 1000 Estados!!!! Como alguns falam, aqui no Brasil a gente vive a política romana - pão-e-circo. O que dizer das novelas? Uma vez li alguém dizer que a televisão coloca a notícia pra gente e logo depois passa a novela, que é pra gente não ter muito tempo de pensar no que nos foi apresentado, hahahaha!
    Emil e Hugo, obrigado, meus caros!! Mais do que uma atitude cívica (nem foi tanto a minha intenção), foi mais um estalo, sabe? Sabem aquela sensação de quando uma coisa não fazia sentido e agora passa a fazer, como se você tivesse descoberto ouro? Aquele "caaaaaaramba, era isso então??"... É mais ou menos por aí!! =)

    Cirão, a sociedade com reciprocidade entre governo e população já é idealizada... até a Constituição Federal Brasileira pensa assim... mas e a prática?

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